terça-feira, 21 de outubro de 2008

E agora, José?

A conquista do “bis pra ser feliz” significou, na minha modesta opinião, apenas uma vitória eleitoral-fisiológica e não uma vitória político-ideológica. O que estava em jogo não era um projeto político para Caxias, mas sim, a conservação da máquina pública, dos cargos ocupados pelos “aliados” e de toda a estrutura burocrático-assistencialista constituída nos últimos quatro anos.
Uma coligação composta por 14 siglas partidárias - algumas inexpressivas eleitoralmente, fisiológicas apenas – gravitando em torno de um suposto projeto de desenvolvimento para Caxias, mas que na realidade significava apenas a manutenção do poder.
A distribuição e o aumento dos cargos e a acomodação dos “apoiadores”, pode vir a gerar problemas e até mesmo dissidências. As fatias saborosas do bolo podem não satisfazer a fome de alguns partidos mais gulosos – com os olhos maiores do que a barriga – com muita fome de cargos e poder, o que exigirá uma grande destreza e habilidade política do prefeito.
Como disse o poeta, o grande poeta Carlos Drummond de Andrade:
E agora, José?
A festa acabou, a luz apagou, a noite esfriou e agora José? E agora você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta, e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio, não veio a utopia.
E tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou e agora, José?
Com a chave na mão quer abrir a porta,
não existe porta;
sozinho no escuro qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua para se encostar,
sem cavalo preto que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
O fisiologismo não é uma particularidade de um ou outro partido, mas o PMDB, no entanto, é o partido em que mais transparece essa característica por buscar, de qualquer forma, a manutenção do poder, independente de quem esteja no poder.
Parece que não é mais possível governar sem recorrer a esta prática. As negociações visam fortalecer as coligações para os enfrentamentos, mas escancara a questão carguista e cacequista.
O fisiologismo político-partidário barato é uma demonstração comportamental amoral e antiética, que a grande maioria dos nossos políticos adotou e que se traduz em dar e receber apoio em razão do recebimento de benefícios pessoais ou do grupo que representa, em detrimento das obrigações com o eleitorado.

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