sexta-feira, 20 de junho de 2008



CONTRA-OFENSIVA NEOLIBERAL


América Latina bipolar: os movimentos se movem
Está em curso na América Latina uma contra-ofensiva articulada pelos Estados Unidos, misturando estratégias da Aliança para o Progresso com uma política de criminalização dos movimentos sociais. Esse processo de criminalização é ainda mais forte contra as comunidades indígenas, como vemos no Peru, no Chile e na Bolívia. A análise é do sociólogo Boaventura de Sousa Santos.

Boaventura de Sousa Santos

A América Latina é peça-chave nas estratégias das empresas transnacionais e dos governos do Norte global. A expansão do mercado transformou a água, os serviços de saúde e a educação em mercadoria. A mercantilização dos recursos naturais é fundamental para a acumulação de capital a médio prazo, colocando a biodiversidade enorme da América Latina no centro dos interesses.O processo de “refocalizar” a América Latina acelerou-se devido ao fracasso da guerra do Iraque. Os Estados Unidos perceberam que, durante sua relativa ausência, gestaram-se mudanças e os processos sociais avançaram fora de seu controle, resultando em governos progressistas e movimentos sociais fortes que chegaram ao poder através da democracia, sendo que os Estados Unidos usam o discurso da democracia para justificar suas intervenções.Neste cenário, está se desenvolvendo uma nova contra-insurgência, mistura das estratégias da Aliança para o Progresso e uma política de divisão dos movimentos, especificamente o indígena. O protesto é criminalizado de maneira brutal e a militarização torna-se mais profunda. Incapaz de conquistar apoio popular, o neoliberalismo tenta substituir “desenvolvimento” e “democracia” por “controle” e “segurança”.Isto é conseqüência do aprofundamento da exclusão social, da miséria e da desigualdade, o que implica na emergência de um fenômeno de fascismo social. Não um regime político, mas uma forma de sociabilidade onde alguns têm capacidade de veto sobre a vida de outros. Corremos o risco de viver em sociedades politicamente democráticas, mas socialmente fascistas.O melhor exemplo desta lógica é o doloroso aumento da fome no mundo, que mostra a contradição entre a vida e a ânsia de lucro. A emergência do fascismo social mostra que a modernidade, como projeto, está quebrada, porque não cumpriu suas promessas de liberdade, igualdade e solidariedade, e não irá cumpri-las.Surge, então, a contradição entre o paradigma da segurança e da luta contra o terrorismo e os Estados que reivindicam sua soberania, os movimentos sociais e, especificamente, as lutas dos povos indígenas. Nos territórios indígenas está 80% da biodiversidade latino-americana. Organizações como a Coordenadora Andina de Organizações Indígenas, a Confederação Nacional de Comunidades Afetadas pela Mineração do Peru e a Coordenadora Nacional de Ayllus e Marqas, são um perigo para o status quo.A criminalização da dissidência na América Latina é ainda mais forte contra os indígenas, como vemos no Peru e no Chile. Existe a intenção de transformar os indígenas nos terroristas do século XXI, como mostram os documentos da CIA. O uso das leis antiterroristas contra os dirigentes indígenas está baseado em uma descaracterização total do conceito de terrorismo, uma vez que isto significa atacar e causar danos a civis inocentes. No caso das lutas indígenas, são ataques contra a propriedade privada para defender outra propriedade, a comunitária e ancestral. Isto não cabe em nenhum conceito de terrorismo.A regionalização subnacional tem sido promovida pelo Banco Mundial em forma de descentralização, que apontou a desmembrar o Estado central através da transferência de responsabilidades para os níveis locais. Na Bolívia, existia uma descentralização dirigida pelas autonomias indígenas, a partir de uma visão política e cultural sólida, que permitiu que os indígenas ganhassem alguma coisa com as políticas de descentralização do BM.Mas a bandeira da descentralização foi assumida agora pelas oligarquias, em resposta à perda de controle do Estado central que elas sofreram. Eles sempre foram centralistas, mas agora levantam a bandeira da autonomia para defender seus privilégios econômicos. Isto gerou um problema político para o movimento indígena na Bolívia, que tem promovido a autonomia dos oprimidos, não dos opressores. A “autonomia” de Santa Cruz é ilegal sob a velha Constituição; uma nova está para ser aprovada. A decisão das autonomias caberia ao Congresso.Tenho defendido, na Bolívia, a diferenciação entre autonomias ancestrais e as da descentralização. Proponho entender as autonomias indígenas como extraterritoriais em relação às autonomias departamentais. Deveriam estar baseadas no controle total do seu território, fora da governabilidade descentralizada, uma vez que são anteriores ao processo de descentralização. Mas seria necessário fortalecer a institucionalidade indígena, que ainda é frágil, diante do poder das oligarquias bolivianas.O debate atual é perigoso, porque existem desejos recíprocos de enfrentamento armado. As oligarquias não querem deixar seus privilégios e os indígenas não vão deixar pacificamente que o país seja dividido. Seriam eles que defenderiam o país.A Colômbia e o Peru representam o status quo neoliberal e os Estados Unidos na região. São complementares. A Colômbia representa a lógica militar que busca conflitos e tensões, os quais criam condições para a militarização e a intervenção. No Peru, é promovida uma lógica similar, com forte criminalização das organizações sociais, um primeiro passo que prepara a militarização posterior. Existem indícios de que a base de Manta, no Equador, vai se mudar para a Amazônia peruana.Estamos entrando em uma fase histórica de polarização. De um lado, as políticas de mercantilização buscarão livre acesso aos recursos naturais e a continuidade dos privilégios das elites. Do outro, existe um imaginário radicalizado nas forças progressistas do continente, que desenvolveram concepções diferentes de democracia, desenvolvimento, direitos e sustentabilidade, compartilhadas por cada vez mais pessoas e organizações. As forças dominantes não podem mais cooptar este imaginário radical com suas propostas de proteção social. Por isso a repressão.O horizonte continua sendo a democracia e o socialismo, mas um socialismo novo; seu novo nome é democracia sem fim. A democracia radical é uma alternativa para duas idéias fundamentais. Não acredito que seja possível mudar o mundo sem tomar o poder, mas também não podemos mudar algo com o poder que existe hoje. Então, devemos mudar as lógicas do poder e, para isso, as lutas democráticas são cruciais e são radicais, por estarem fora das lógicas tradicionais da democracia. Devemos aprofundar a democracia em todas as dimensões da vida. Da cama até o Estado, como dizem as feministas. Mas também com as gerações futuras e com a natureza, o que é urgente para deter a destruição do planeta.Nosso objetivo é sair de uma democracia tutelada, restrita, de baixa intensidade, para chegar a uma democracia de alta intensidade, que torne o mundo cada vez menos confortável para o neoliberalismo. Mas a realidade não muda espontaneamente. Em política, para fazer algo é preciso ter razão a tempo, no momento oportuno; e ter força para impor essa razão.

De uma entrevista realizada por Raphael Hoetmer em Lima, Peru, durante a Cúpula dos Povos, em maio.




20 DE JUNHO DE 2008 - 11h33



Reflexões de Fidel Castro: A formiga e o elefante


O ex-presidente cubano Fidel Castro, em seu mais recente artigo, destacou o desenvolvimento em Cuba de um forte espírito internacionalista desde os primeiros anos da Revolução. No artigo intitulado 'A formiga e o elefante', publicado na última quinta-feira (19) jornal Granma, Fidel conta que tal espírito "teve suas raízes no numeroso contingente de cubanos que participou da luta antifascista do povo espanhol e fez suas as melhores tradições do movimento operário mundial".
"Não costumamos divulgar nossa cooperação com outros povos, ainda que também não haveria forma de impedir que a imprensa fale às vezes da mesma. Está motivada em sentimentos profundos que em nada se relacionam com a publicidade", destaca.
"Alguns se perguntarão como é possível que um país pequeno com poucos recursos possa levar adiante uma tarefa dessa magnitude em campos tão decisivos como a educação e a saúde, sem os quais não é concebível a sociedade atual", acrescenta.
Leia abaixo a íntegra do artigo:
"Acho que não existe tema que valha a pena comentar sem cansar aos pacientes leitores depois da Mesa Redonda de 12 de junho, que divulgou a nova edição de um livro publicado na Bolívia há 15 anos, desta vez com um prólogo meu. Leu-se nesse programa uma introdução elaborada posteriormente pelo presidente Evo Morales e uma mensagem da prestigiosa escritora argentina Stella Calloni, que serão incluídas em uma próxima edição. Selecionei cuidadosamente os dados que utilizei nesse prólogo.
Desde os primeiros anos da Revolução Cubana desenvolveu-se um forte espírito internacionalista, que teve suas raízes no numeroso contingente de cubanos que participou na luta antifascista do povo espanhol e fez suas as melhores tradições do movimento operário mundial.
Não costumamos divulgar nossa cooperação com outros povos, ainda que também não haveria forma de impedir que a imprensa fale às vezes da mesma. Está motivada em sentimentos profundos que em nada se relacionam com a publicidade.
Alguns se perguntarão como é possível que um país pequeno com poucos recursos possa levar adiante uma tarefa dessa magnitude em campos tão decisivos como a educação e a saúde, sem os quais não é concebível a sociedade atual.
O ser humano criou os bens e serviços indispensáveis desde que vive em sociedade, e esta se desenvolveu a partir das formas mais elementares até as mais avançadas ao longo de muitos milhares de anos.
A exploração do homem pelo homem foi inseparável companheira desse desenvolvimento, como todos sabem ou devemos saber.
As diferenças no modo de perceber essa realidade sempre dependeram do lugar que cada um ocupou na sociedade. Via-se como algo natural e a imensa maioria não tomou nunca consciência disto.
Em pleno auge do capitalismo na Inglaterra, que ia à vanguarda com os Estados Unidos e outros países da Europa, no mundo dominado já pelo colonialismo e o expansionismo, um grande pensador e estudioso da história e a economia, Karl Marx, partindo das idéias dos mais prestigiosos filósofos e economistas alemães e ingleses da época — entre eles Hegel, Adam Smith e David Ricardo, com os quais discordou —, elaborou, escreveu e publicou suas idéias sobre as relações de produção e troca no capitalismo no ano 1859 sob o título Contribuição à Crítica da Economia Política.
Em 1867, continuou divulgando seu pensamento com o primeiro capítulo de sua destacada obra, que o fez famoso: O Capital. A maior parte de seu extenso livro, a partir de notas e anotações suas, foi editado por Engels, que compartilhava suas idéias e como um profeta divulgou sua obra após a morte de Marx, em 1883.

O publicado pelo próprio Marx constitui a análise mais séria jamais escrita sobre a sociedade de classes e a exploração do homem pelo homem. Nasceu assim o marxismo, que foi o fundamento dos partidos e movimentos revolucionários que proclamavam o socialismo como objetivo, entre os que se contavam quase todos os partidos social-democratas que, ao estalar a Primeira Guerra Mundial, traíram a consigna hasteada por Marx e Engels no Manifesto comunista, publicado pela primeira vez em 1848: "Proletários de todos os países, uni-vos!".
Uma das verdades que o grande pensador expressava textualmente de forma singela é: "Na produção social de sua vida os homens estabelecem determinadas relações necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a uma fase determinada de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. Não é a consciência do homem o que determina seu ser, senão pelo contrário, o ser social é o que determina sua consciência. Ao chegar a uma fase determinada de desenvolvimento das forças produtivas materiais da sociedade, entram em contradição com as relações de produção existentes... Das formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações transformam-se em suas travas e abre-se assim uma época de revolução social... Nenhuma formação social desaparece antes que se desenvolvam as forças produtivas que cabem dentro dela e jamais aparecem novas e mais elevadas relações de produção antes que as condições materiais de sua existência tenham amadurecido dentro da própria sociedade antiga."
Eu não poderia explicar com outras palavras esses conceitos claros e precisos emitidos por Marx de tal modo que, com uma elementar explicação de seus professores, até um jovem cubano dos que entraram no último sábado, 14 de junho, na Juventude Comunista possa compreender sua essência.
Sobre o desenvolvimento concreto da luta de classes, Marx escreveu "A luta de classes na França de 1848 a 1850" e O "18 Brumário de Luis Bonaparte", duas excelentes análises históricas que deleitam qualquer leitor. Era um verdadeiro gênio.
Lênin, continuador profundo do pensamento dialético e das investigações de Marx, escreveu duas obras fundamentais: O Estado e a revolução e O imperialismo, fase superior do capitalismo. As idéias de Marx, postas em prática real por ele com a Revolução de Outubro, foram igualmente desenvolvidas por Mao Tse Tung e outros líderes revolucionários no Terceiro Mundo. Sem elas a Revolução Cubana também não teria ocorrido no quintal dos Estados Unidos.
Se o pensamento marxista tivesse circunscrito simplesmente à idéia de que "nenhuma formação social desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que cabem dentro dela", o teórico do capitalismo Francis Fukuyama teria tido razão ao proclamar que o desaparecimento da URSS era o fim da história e das ideologias e deveria cessar toda resistência ao sistema capitalista de produção.
Na época em que o criador do socialismo científico expôs suas idéias, as forças produtivas estavam por se desenvolver plenamente, a tecnologia não tinha contribuído ainda com as mortíferas armas de destruição em massa, capazes de provocar o extermínio da espécie; não existia o domínio aeroespacial, o desperdício sem limites dos hidrocarbonetos e combustíveis fósseis não renováveis; a mudança climática não era conhecida em uma natureza que parecia infinita ao ser humano, nem se havia apresentado a crise mundial de alimentos para compartilhar com inúmeros motores de combustão e uma população seis vezes superior ao bilhão que habitava o planeta no ano em que nasceu Karl Marx.
A experiência de Cuba socialista acontece quando o domínio imperial se estendeu por toda a Terra.
Ao falar da consciência não me refiro a uma vontade capaz de mudar a realidade senão, pelo contrário, ao conhecimento da realidade objetiva que determina a conduta a seguir.
Dezenas de milhões de pessoas tinham morrido na guerra provocada em meados do século 20 pelo fascismo, que nasceu da entranha antimarxista do capitalismo desenvolvido previsto por Lênin.
Em Cuba, como em outros países do Terceiro Mundo, a luta pela libertação nacional sob a direção das camadas médias e da pequena burguesia, e a que já vinham livrando pelo socialismo os setores mais avançados da classe operária e dos camponeses, somaram-se e potenciaram-se mutuamente. Afloraram igualmente as contradições ideológicas e de classe. Os fatores objetivos e subjetivos variavam consideravelmente em cada processo.
Da última contenda mundial tinham surgido as Nações Unidas e outros organismos internacionais, nos que muitos viram uma nova consciência no planeta. Era um engano.O fascismo, cujo instrumento o próprio Hitler chamou Partido Nacional Socialista, renasceu mais poderoso e ameaçador que nunca.
O império envia e mantém porta-aviões em todos os mares do mundo para intervir militarmente. O que decide a fim de competir com Cuba na região do nosso hemisfério? Enviar um enorme barco transformado em hospital flutuador que trabalha dez dias em cada país. Um número de pessoas pode ser ajudada, mas está bem longe de resolver os problemas de um país; não compensa também o roubo de cérebros nem pode formar os especialistas necessários para prestar verdadeiros serviços médicos em qualquer dia da semana e do ano. Todos os porta-aviões juntos, que agora são instrumentos de intervenção militar nos diversos oceanos da Terra, transformados em hospitais não poderiam prestar esses serviços aos milhões de pessoas que os médicos cubanos atendem em lugares afastados do mundo, onde parem mulheres, nascem crianças e existem doentes que precisam de atenção urgente.
Nosso país demonstrou que pode resistir a todas as pressões e ajudar outros povos.Meditava sobre a magnitude de nossa cooperação não apenas na Bolívia, senão no Haiti, no Caribe, em vários países da América Central e da América do Sul, na África, e até na longínqua Oceania, a 20.000 quilômetros de distância. Recordava igualmente as missões da Brigada Henry Reeve, em casos de graves emergências, viajando em nossos próprios aviões, transportando pessoal e outros recursos.
O milhão de operados gratuitamente da vista a cada ano na América Latina e no Caribe de que falamos, não está longe de ser atingido. Podem os Estados Unidos talvez emular com Cuba?
Utilizaremos a computação não para fabricar armas de destruição em massa e exterminar vidas senão para transmitir conhecimentos a outros povos. Do ponto de vista econômico, o desenvolvimento das inteligências e das consciências de nossos compatriotas, graças à Revolução, permite-nos não apenas cooperar com os povos que mais a necessitam sem custo algum, senão também exportar serviços especializados, incluídos os de saúde, a países com mais recursos que a nossa pátria. Nesse terreno os Estados Unidos não poderiam jamais competir com Cuba.
Nosso pequeno país resistirá. Em poucas palavras: A formiga pôde mais que o elefante!
Fidel Castro Ruz
19h35 de 18 de junho de 2008"

segunda-feira, 16 de junho de 2008

16 DE JUNHO DE 2008 - 01h06

'Veja' coloca ''República de Santa Maria'' na boca de Yeda

O porta-voz do governo do Rio Grande do Sul, Paulo Fona, disse em entrevista à Rádio Gaúcha neste domingo (15) que a governadora Yeda Crusius ''vê um equívoco'' na reportagem publicada na revista Veja desta semana sobre a crise política gaúcha. A existência de uma suposta ''República de Santa Maria'' conspirando contra Yeda foi idéia do repórter da revista, mas saiu publicada como sendo da governadora.
Questionado sobre a expressão ''República de Santa Maria'', na qual o ministro da Justiça, Tarso Genro, seria o líder de um movimento para tentar derrubar a governadora, Fona disse que a ''idéia'' não partiu de Yeda, mas que foi uma formulação do repórter da revista Veja.A governadora, segundo o porta-voz, apenas comentou que a pergunta era interessante. ''Ela não qualificou as pessoas que trabalham ou tiveram sua carreira profissional política como 'República de Santa Maria'. Ela entendeu que teve algum tipo de mal-entendido com o repórter da revista'', disse Fona.Ao que parece, Veja sucumbiu à tentação de dar um tom mais aguerrido às declarações da governadora, como se esta já não tivesse problemas de sobra com a crise política e as denúncias de corrupção que abalam seu governo. Na notícia publicada, a ''República de Santa Maria'' aparece na boca de Yeda Crusius:''A governadora vê uma conspiração em andamento para tentar inviabilizar sua administração e acusa o ministro da Justiça, tarso genro, de liderar o movimento. 'Isso é coisa da República de Santa Maria', diz ela, referindo-se à cidade gaúcha que é berço político do ministro Tarso, de sua filha Luciana, autora do pedido de impeachment, e também o lugar de origem profissional do atual chefe da Polícia federal do estado, Ildo Gasparetto, que investiga as supostas tramóias no governo gaúcho'', diz o texto da revista.A matéria é ilustrada com fotos de Tarso e da deputada federal Luciana genro (Psol-RS). O ministro da Justiça rebateu em sua residência, em Porto Alegre, as declarações atribuídas a Yeda Crusius pela revista. ''A governadora se mostra excessivamente tensa e vulnerável. Os alvos que ela tem buscado atingir são equivocados'', disse Tarso.Sobre a vinculação com sua filha e o pedido de impeachment da governadora gaúcha, feito pelo partido de Luciana, o Psol, Tarso Genro disse que são dois fatos completamente diferentes: ''Adoro a minha filha, mas isto não me impede de divergir sobre o que o seu partido fez. Eu, pessoalmente, discordo dessa atitude. Acho que não é esse o caminho''.Tarso também refutou as acusações de Yeda à atuação da Polícia Federal (PF) na Operação Rodin, sobre o desvio de verbas no total de R$ 44 milhões no Departamento de Trânsito do Rio Grande do Sul (Detran/RS), em matéria do Estado de S. Paulo deste domingo (15). ''Uma coisa não tem nada a ver com a outra. A atuação do delegado Ildo Gasparetto foi limpa e transparente. A Polícia Federal age dentro da legalidade. Foi assim no caso do desvio de verbas do Detran, e também no Rio Grande do Norte, quando da prisão do filho da governadora Wilma Faria''.
Da redação, com agências

sexta-feira, 6 de junho de 2008

A dominação transforma o mundo em um manicômio
Eduardo Galeano

Em seu novo livro, "Espelhos: uma história quase universal", o escritor conta 600 histórias curtas, "que recolhem uma experiência de toda a vida, muitas leituras e muitas perguntas". Relatos que falam dos esquecidos pela história oficial, uma história, diz Galeano que sacrificou e mutilou o arco-íris terrestre. Relatos de um mundo que está enlouquecendo.
Armando G. Tejeda - La Jornada

MADRI - Aos 63 anos, Eduardo Galeano dedica-se diariamente a tentar resolver o maior desafio da linguagem, sabendo que isso é “impossível”: utilizar em seus textos apenas palavras que sejam melhores do que o silêncio.Foi com esse desejo de depuração do idioma que o escritor uruguaio escreveu seu livro mais recente, Espelhos: uma história quase universal (Editora Siglo XXI), no qual, por meio de 600 histórias breves, oferece um panorama inquietante sobre o devir do mundo e da história da humanidade.Em entrevista a La Jornada, Galeano levanta a voz frente ao “sistema mundial de dominação que está levando todos nós para o matadouro ou para o hospício”. E critica a obstinação do ser humano em “mutilar” o arco-íris terrestre com “o racismo, o machismo, o elitismo e o militarismo”.Todos somos africanos emigradosLa Jornada: Dá a impressão que com este livro você se esvaziou, que colocou nele o conhecimento, as leituras e os aprendizados acumulados ao longo de sua vida.Galeano: Acho que sim. A idéia era reunir em um único livro estas 600 histórias ou relatos que viajam pelo mundo e pelo tempo, sem limites, sem fronteiras. E eles vão e vêm pelo mapa do mundo e do tempo. E é verdade que recolhem uma experiência de toda a vida, muitas leituras e muitas perguntas.Sobretudo recolhe as perguntas que tenho me formulando ao longo da minha própria vida. Desde que eu era pequenininho e ia para a escola e a professora me dizia que o basco Núñez de Balboa foi o primeiro homem que viu os dois oceanos, do alto de um monte do Panamá. E eu levantava a mão e dizia: ‘Senhorita, senhorita, então os que viviam aí eram cegos’. E ela me expulsava da aula por ser atrevido.E as perguntas que depois fui me fazendo que foram ficando e esperando respostas que fossem, por sua vez, novas perguntas. Por exemplo, esta outra, que abre o livro, quando pergunto se Adão e Eva eram negros, porque se a viagem humana começou na África, de lá partiram nossos avós para a conquista do planeta e foi o Sol que repartiu todas as cores, porque somos todos africanos e somos todos emigrados. É bom lembrar agora que todos somos africanos emigrados, diante de tanta demonização que se faz da emigração, como se fosse um crime. Mas sim, também é um livro de perguntas incômodas. Eu sempre digo que uma boa resposta é uma fonte de novas perguntas, ou seja que o livro está escrito por um 'perguntão', por um curioso que quer despertar a curiosidade de quem ler.La Jornada: Essas 600 histórias, contadas assim, de maneira aparentemente desconexa, é porque você também pretendia chamar a atenção para a anarquia que há no mundo e na história da própria humanidade?Galeano: Sim, mas que estão atadas por fios invisíveis, que fazem com que essa aparente desconexão não seja mais do que uma expressão da diversidade da vida humana, da história e da presença dominante, nessa diversidade, dos esquecidos pela história oficial. Que é uma história que sacrificou, que mutilou o arco-íris terrestre.Sempre digo que o arco-íris terrestre tem mais cores do que o celeste. É muito mais belo, mais fulgurante, mas tem sido mutilado pelo racismo, pelo machismo, o elitismo, o militarismo… Então, não somos capazes de ver a nós mesmos em toda a nossa plenitude assombrosa, em toda a nossa prodigiosa capacidade de beleza.O livro rende homenagem à diversidade humana e à diversidade da natureza, da qual também fazemos parte.Então, na aparência pode parecer desconexo, mas quando a gente entra para lê-lo está armado de tal maneira que há muitíssimo trabalho por trás. É como um rio que às vezes corre por baixo da terra, outras por cima, mas que nunca deixa de correr. É um único fluxo de um rio, de muitos rios.Discípulo de Juan RulfoLa Jornada: Como uma sinfonia.Galeano:A literatura e a música são muito parecidas. Por isso é bom ler em voz alta. Quando a gente escreve, quando termina um texto, a gente lê em voz alta, porque essa leitura nos dá a música das palavras. E a música manda. Tem que haver uma continuidade da música.La Jornada: Depois de tantos livros e, principalmente, aprendizados, você acha que chegou ao máximo de depuração da sua própria linguagem literária?Galeano: Acho que sim. A linguagem que eu utilizo, não quero que apareça, mas cada um destes relatos teve 15 ou 20 tentativas. Como dizia um escritor chileno quando reeditava seus contos: edição corrigida e diminuída. Eu também vou diminuindo; é um trabalho de tirar a gordura, para que só fique a carne e o osso daquilo que se quer contar. É um trabalho de despir e purificar a linguagem.La Jornada: Uma linguagem pouco freqüente nas letras latino-americanas, que às vezes tendem a exagerar na verborréia, você não acha?Galeano: Pode ser, mas eu não acho que a literatura latino-americana deva ser isto ou aquilo, porque o melhor desta nossa região é que ela é tão diversa. Ou seja, que contém todas as cores, os cheiros, os sabores do mundo.Se o melhor que o mundo tem está na quantidade de mundos que o mundo contém, poucas regiões do mundo contêm tantos mundos como a nossa. E, portanto, há uma diversidade de linguagens e essa é a nossa riqueza. Eu escrevo do meu jeito, o que sinto e como sai, mas há muitas outras formas de escrever. Toda linguagem é legítima, na medida em que as palavras nasçam da necessidade de dizer.La Jornada: Mas há influências, gerações literárias.Galeano: Sim, eu escrevo do meu jeito, que por sua vez é um jeito muito influenciado pelo meu mestre Juan Rulfo. Em uma entrevista, já faz algum tempo, pediram que eu escolhesse os escritores mais importantes na minha formação literária. Eu respondi: Juan Rulfo, Juan Rulfo e Juan Rulfo.Histórias sentipensantesLa Jornada: Em sua busca por novas linguagens, suponho que também está à par da evolução do nosso idioma na sociedade atual.Galeano: Sim, é um aprendizado cotidiano. Recebo muitas vozes da rua, que são as que mais me alimentam. E é um trabalho de recriação das vozes que a gente recebe. Quando Rulfo me dizia que se escreve mais com a borracha do que com o lápis, isso é verdade, mas não toda. Porque também é preciso ver quais são as palavras.Outro de meus mestres, Juan Carlos Onetti, com quem compartilhei poucas palavras e muitos silêncios, sempre dizia que havia um provérbio chinês que dizia que as únicas palavras que merecem existir são as palavras melhores que o silêncio.É uma idéia muito linda, porque o silêncio é uma linguagem muito funda e profunda; então, é muito difícil que as palavras sejam melhores que o silêncio. Na verdade, isso é impossível, mas a gente tem que tentar esses impossíveis. É o maior desafio da linguagem.La Jornada: Justamente. Seu livro "Espelhos" tem muitos silêncios e muita calma em sua leitura.Galeano: O livro pede lentidão, como o amor. E silêncio, para que as palavras tenham sonoridade realmente.La Jornada: Você também assume a literatura como esse saltimbanco que vai de vilarejo em vilarejo contando histórias, declamando, lendo em voz alta essas histórias?Galeano: Sim, mas se são só conhecimentos, ou seja, mensagens da razão, terão curto percurso. Precisam ser histórias sentipensantes, para que cheguem a quem as lê; elas têm que vir da razão e do coração. Têm que unir o que foi desvinculado pela cultura do desvínculo, que é a cultura dominante. Que, entre outras coisas, desvinculou a razão da emoção, assim como desvinculou o passado do presente.Por isso, no livro misturo muitíssimo o passado e o presente; o extermínio do Iraque pelas mãos de um senhor que acredita que a escritura foi inventada no Texas e, ao mesmo tempo, o nascimento do primeiro poema de amor da história humana, que é um poema escrito no Iraque, quando ainda não tinha esse nome, em língua suméria e em tabuletas de barro.La Jornada: Uma dessas linhas invisíveis que dão sentido às 600 histórias de "Espelhos", é a vocação do homem pela guerra, por essa tendência de destruir a si mesmo?Galeano: Acho que aqueles que acreditaram que a contradição é o motor da vida humana não erraram. Somos uma contradição incessante. E isso ajuda você a sobreviver em um mundo difícil; a certeza de que não existe horror que não implique alguma maravilha. A certeza de que somos metade lixo e metade beleza. Então, o livro alimenta-se dessa contradição incessantemente. Não só do horror, mas também do amor.La Jornada: Com especial foco nas guerras, você não acha?Galeano: Sim, porque a guerra é parte do horror. Não penso que a guerra seja um destino humano, mas é verdade que continua sendo uma realidade do nosso tempo. A cada minuto morrem de fome ou de doença curável 10 crianças no mundo. A cada minuto! E a cada minuto os Estados Unidos gastam meio milhão de dólares matando inocentes no Iraque!La Jornada: Também o machismo é uma constante da história da humanidade...Galeano: Sim, por isso menciono o paradoxo das vidas de Santa Teresa e de Joana Inés de la Cruz. As duas perseguidas pela Inquisição, pelos setores mais dogmáticos e ferozes da Igreja católica e suas verdades únicas. Suspeitas por serem mulheres inteligentes, criativas, por terem tanto ou mais talento que os homens. E, portanto, culpadas do imperdoável delito de serem elas mesmas.O caso de Santa Teresa é o mais trágico. Penso que um braço de Santa Teresa acompanha Francisco Franco em sua longuíssima agonia, porque foi esquartejada e mandaram os pedaços para todas partes; e o braço incorruptível – como é chamado –, na mesinha de cabeceira de Franco. É uma piada de mau gosto da história. Ela, que tinha sido vítima dos equivalentes de Franco do seu tempo.La Jornada: Como Eduardo Galeano vê o que ocorreu recentemente na África do Sul, que desconcertou o mundo: a explosão xenófoba no país que sofreu durante tantas décadas com o apartheid?Galeano: Acho que há um sistema mundial de dominação que está transformando o mundo em um matadouro, e também em um manicômio. Está enlouquecendo a todos nós e a prova de que isto está se transformando em uma loucura total é que esse sistema de dominação mundial conseguiu que os negros se matem entre si, como está ocorrendo na África do Sul, ou que os iraquianos se matem entre si, como ocorre no Iraque, ou que os palestinos se matem entre si. Enlouquecem-nos. Já não sabemos quem é quem, nem por quê, nem para quê.Agora o mundo entrou em um período de crise muito perigoso e isto vai gerar explosões de racismo por todas partes. O imigrante, o que vem de fora, principalmente se for de pele escura, será o bode expiatório do desemprego, da desocupação.La Jornada: Dá a impressão que o mundo não pensa nem guarda silêncio para analisar isto desse jeito, como podemos fazer com seu livro, por exemplo…Galeano: Sim, porque vivemos em uma vertigem incessante. Somos presos. Instrumentos dos nossos instrumentos. Máquinas das nossas máquinas. E a vertigem da vida urbana impede que disponhamos do tempo necessário para recuperar a memória perdida e para lembrar das coisas mais óbvias: que ninguém pediu passaporte para Colombo, que ninguém exigiu contrato de trabalho para Hernán Cortés, que ninguém exigiu certificado de boa conduta para Francisco Pizarro —que, por outro lado, ele não teria obtido, porque era um cara com péssimos antecedentes.Como dizia no começo, somos todos africanos emigrados. São coisas elementares que esquecemos completamente e que devemos recuperar para fazer perguntas como as seguintes: este mundo é um destino? Será que ele não está grávido de outro?La Jornada: No livro você também reflete sobre a conquista, depois de cinco séculos. Como você vê a situação dos povos indígenas?Galeano: Acho admirável a capacidade que tiveram os indígenas das Américas de perpetuar uma memória que foi queimada, castigada, enforcada, desprezada durante cinco séculos. E a humanidade inteira tem que estar muito agradecida a eles, porque graças a essa obstinada memória sabemos que a terra pode ser sagrada, que somos parte da natureza, que a natureza não termina em nós. Que há possibilidades de organizar a vida coletiva, formas comunitárias que não estão baseadas no dinheiro. Que competir com o próximo não é inevitável e que o próximo pode ser algo muito mais do que um competidor.Todas estas coisas que foram herdadas das culturas originais e que tiveram uma persistência admirável, porque sobreviveram a tudo, e que agora se manifestam. Por exemplo, a nova Constituição do Equador, que tem nome indígena, pela primeira vez na história da humanidade consagra a natureza como sujeito de direito. Nunca ninguém tinha pensado nisso.No Equador, apesar de ser um país muito infectado pelo racismo, como o México e todos na América Latina, conseguiu perpetuar-se uma memória subterrânea que torna possível esta recuperação de verdades pronunciadas por vozes do passado mais remoto, mas que falam para o futuro.Troca de senhorLa Jornada: E o fato de que agora estejamos em plena “comemoração” do bicentenário das independências, o que você acha disso?Galeano: As independências foram, em geral, as certidões de nascimento das nações, mentira nestas que vivemos. Porque todas as constituições das nossas repúblicas independentes negaram os direitos para aqueles que derramaram seu sangue para conseguir essas independências. Foram emboscadas feitas contra os filhos mais pobres das Américas. Isso foi unânime e sempre foi assim.Foram repúblicas nascidas para a negação de direitos, para a maldição e para o desprezo da maioria de seus habitantes, muitos dos quais passaram a ter uma vida pior da que tinham sob a dominação colonial. Ou, em todo caso, limitaram-se a trocar de senhores. Como dizia uma pichação anônima em uma parede de Quito, quando foi promulgada a independência do Equador: ‘Último dia do despotismo e primeiro da mesma coisa’.
Tradução: Naila Freitas/Verso Tradutores

terça-feira, 3 de junho de 2008


Investimento das estatais é o maior dos últimos dez anos

O governo federal divulgou nesta segunda-feira (2) o balanço bimestral dos investimentos das estatais. A novidade é mais um recorde de aplicações. Os investimentos de janeiro a abril são os maiores dos últimos dez anos. No total, as empresas desembolsaram R$ 13,4 bilhões na realização de obras e compra de equipamentos.
O valor de investimentos, em março e abril, no patamar de R$ 7,6 bilhões é superior aos realizados nos dois primeiros meses de 2008, que somaram R$ 5,9 bilhões. Já no quadrimestre deste ano, o valor investido foi de 21,3% do montante anual autorizado de R$ 62,9 bilhões. Este orçamento engloba execução de obras e serviços em 364 projetos e 272 atividades.
Em contrapartida, mesmo os investimentos recordes e os dois títulos de investment grade não devem ser suficientes para o Brasil repetir a taxa de crescimento alcançada em 2007. A constatação é do economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli. Para ele, os problemas na economia mundial, a desaceleração nos Estados Unidos e o aumento esperado da taxa de juros na reunião desta semana do Comitê de Política Monetária (Copom), para conter a inflação, devem influenciar negativamente o crescimento do país.
Apesar da evolução expressiva de investimentos, o crescimento não foi satisfatório para fazer as aplicações atingirem o patamar considerado ideal. Caso a execução orçamentária fosse linear, um cálculo proporcional dos quatro primeiros meses em relação ao ano inteiro mostra que se o ritmo dos investimentos continuar o mesmo, ao final do ano, as estatais devem aplicar R$ 40,2 bilhões, ou seja, 64% dos recursos autorizados. “Neste caso, as companhias deveriam pisar mais fundo no acelerador”, avalia Piscitelli.
Boas perspectivas
O economista acredita que a execução de obras e aquisição de equipamentos poderia ser ainda maior. “Se os investimentos forem feitos linearmente durante o ano, o valor fica abaixo dos 2/12 esperados, ou seja, de 16,7%”, argumenta. No entanto, Piscitelli pondera que maiores aplicações podem estar previstas nos próximos meses e que, mesmo assim, seria necessário conhecer o plano de investimento das empresas para se ter certeza. De qualquer forma, o economista espera um aumento dos gastos por ser ano eleitoral.
Dos gastos realizados com investimentos neste ano, 77,2% do total foi financiado com recursos das próprias empresas. Em relação à dotação anual, os recursos próprios equivalem a 86,4%. São 67 companhias estatais federais, sendo 58 do setor produtivo e 9 do financeiro. Das empresas do setor produtivo, 16 pertencem ao Grupo Eletrobrás, 20 ao Grupo Petrobras e as 22 restantes estão agrupadas em outras companhias.
Os investimentos das estatais são responsáveis por uma parcela significativa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Conforme divulgou reportagem do Contas Abertas no último domingo, dos R$ 503,9 bilhões previstos para serem investidos em infra-estrutura para o país entre 2007 e 2010, cerca de R$ 436,1 milhões são decorrentes de empresas estatais e da iniciativa privada. Os outros R$ 67,8 bilhões são do Orçamento Geral da União (OGU), aplicados diretamente pela administração federal.
Os investimentos da administração direta mais que duplicaram se comparados com o mesmo período de 2007. As aplicações governamentais por intermédio do PAC passaram de R$ 1,4 bilhão, nos cinco primeiros meses do ano passado, para R$ 2,9 bilhões no mesmo período de 2008.
No entanto, as aplicações do PAC contabilizadas no OGU, também não estão com a execução ideal, a exemplo dos investimentos das estatais. O economista afirma que considerando o PAC como o carro-chefe do governo federal, a execução está longe do esperado. “Precisa evidentemente de um ‘chacoalhão’, popularmente falando, para que atinja os objetivos a que se propôs (acelerar o crescimento de forma sustentável)”, afirma.
Maiores investimentos
No segundo bimestre deste ano, 36 programas foram contemplados com investimentos. No quadrimestre, o destaque foi para o setor petrolífero por aplicar, até abril, R$ 11,2 bilhões. Outro destaque foi o setor de energia elétrica com R$ 832,5 milhões de gastos com infra-estrutura. O programa Luz para Todos, por exemplo, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia com participação da Eletrobrás e de suas empresas controladas, investiu R$ 39,4 milhões, até o segundo bimestre.
Ao Ministério de Minas e Energia (MME) estão vinculados 89,2% dos investimentos de estatais. O órgão é responsável por um montante anual no valor de R$ 56,1 bilhões. Deste total, o ministério aplicou R$ 7,3 bilhões no segundo bimestre do ano. A pasta obteve o melhor desempenho dentre os órgãos ao realizar, até o final de abril, investimentos da ordem de R$ 13 bilhões, o equivalente a 23,1% da programação anual das empresas vinculadas ao ministério. O Grupo Petrobras, subordinado ao MME, é líder de investimentos. No primeiro quadrimestre, investiu R$ 12,2 bilhões, um coeficiente de desempenho de 24,2%, se levado em conta o orçamento autorizado de R$ 50,2 bilhões.
Na seqüência, o Ministério da Fazenda (MF) cumpriu 9,6% da sua programação. Dos R$ 3,1 bilhões previstos para ações de empresas vinculadas à pasta, R$ 295,5 milhões foi aplicado até abril deste ano. Entre as unidades subordinadas ao órgão, a Caixa Econômica Federal, que apesar de ter realizado os maiores investimentos na comparação com as outras entidades vinculadas à Fazenda, aplicou, até abril, somente 7,8% (R$ 73,8 milhões) dos recursos autorizados para o ano de R$ 948,9 milhões.
Por sua vez, o Ministério da Defesa (MD) apresentou 3,6% (R$ 79 milhões) de desempenho no primeiro quadrimestre se comparado à dotação autorizada para o ano de R$ 2,2 bilhões. A Infraero, estatal vinculada ao MD, aplicou, até abril, R$ 79,1 milhões. Já no primeiro bimestre, os investimentos foram da ordem de R$ 45,1 milhões. A Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel) investiu R$ 642,2 mil, um desempenho de 35,7% frente ao orçamento anual de R$ 1,8 milhão.

Fontes: Contas Abertas